sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Peregrinação com minha companheira, com minha amada...

Cursava já uns anos passados, éramos mais novos e nos amamos tanto agora como antigamente... Decidimos ir os dois em caminho, em peregrinação, partir de um ponto, de um lugar de comum acordo em terras de Portugal ou de Espanha.. Destino traçado, meta desejada, albardámos as mochilas e pés bem calçados, filhos entregues aos avós, eram meninos e ainda nem percebiam bem onde iam seus pais de paus aviados e mochilas às costas.. Dormimos em Tuy, num hostal onde fomos muito bem recebidos e estimulados.. De madrugado levantados, pequeno almoço e no dizer dos residentes "muy malo dia pra caminar peregrinos..".
Quando saímos do Hostal compreendemos a mensagem, chovia belo chover, mal se via o céu e a luz do dia, mas decididos lá fomos com ilusão, com companheirismo e com fé, sim porque para estas coisas alguma fé se tem de ter nos bolsos e na alma...
Subida ingrime, procurámos a catedral de Tuy, catedral que já conhecíamos e simbolicamente dissemos adeus a San Telmo e lhe pedimos nos ajuda....
Campos molhados, roupa bem encharcada e nem capa nem coisa, a molha estava dada, lavados,a ilusão ia, e o prazer de andar e ir sentido..
Após as primeiras milhas, um café tomado e sempre em frente caminhamos, os regatos corriam forte, nos amparámos e num lugar divinal, sentimos as primeiras magia do caminho.. Se alguém conhece as identificará, ponte de madeira e um regato, umas cruzes, uma placa de lembrar, lugar de febre e adoecer de morte de San Telmo, um aroma estranho de paraíso, uma luminosidade fantasmagórico e pedras onde nos sentámos.. Repousamos e de mochilas arriadas, fechámos os olhos e peregrinos nos sentimos.. Ainda hoje me arrepio desse momento único, o coração toca, a respiração acalma, os pensamentos fluem, as angústias cedem e a esperança renasce... Molhados e eventualmente baptizados e abertos a um renascer e ser "peregrinos"...
Lá seguimos e mal sabíamos o que nos esperava mais à frente.. num bar junto à estrada ou melhor trilho, uma senhora varria o chão e qual o meu espanto distingo uma pagela, uma imagem molhada da Virgem Maria, Nossa Senhora de Fátima, grito dado e pedi para apanhar esse papelinho simbólico e que me acompanhou sempre e guardada a tenho em minha casa... Já a mostrei, já a partilhei e tão bela a acho sempre que a vejo, lembro a peregrinação passada e concluída..

Depois veio a recta do purgatório, quilómetros de muito andar, sem abrigos e de trânsito infernal, andámos e nem parámos, nos pareceu e parece o trajecto mais enfadonho do nosso trilho, nem serra, monte, bosque e mesmo deserto se compara o que sentimos nesse contexto, molhados, pés doridos e incomodados pelos aromas, pelo cenário de armazéns, de fábricas de centrais y oficinas... Porriño nos surgiu como um lugar de refugio e onde pernoitámos e recuperámos energias, com uma refeição quente, um dormir numa cama, um secar roupa sapatos e corpo, banho quente e nem constipados ficámos, pois a magia do trilho nos purificou o corpo e a alma.. Credenciais carimbadas em Casa ilustre de un buen hombre e arquitecto ilustre de España.. Um dia passado a andar, umas quantas horas, poucos quilómetros e muitas experiências que nunca conseguirei relatar.. Porém vos digo Sou peregrino e ao trilho o devo o sentimento de querer mais voltar..

No dia seguinte lá voltámos ao trilho, mas este primeiro dia vos conto e relato o que sentimos e tanto gostámos de passar e registar..

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