sábado, 2 de fevereiro de 2013

O meu Sobrinho João..

O meu Sobrinho João..


Foi num tempo outro que não este, foi num tempo em que eu era ainda muito jovem.. Tinha tantos sonhos, tinha tantas ilusões, apaixonado tanto como sou, romântico e sem graça, apenas desejava acreditar e ver bem estar.. Cuidar queria, amar talvez e um dia quem sabe casar..
Meu irmão, mais velho casado estava e tanto o admirava e admiro, minha cunhada encetava uma vida de nova família, exemplo para mim talvez também...
Um dia se anunciou que a família ia crescer, ia aumentar, meus pais extasiados, de dois filhos surgia o primeiro neto... Meu irmão cansado de trabalhar e procurar sustento, minha cunhada também e vida era difícil como continua a ser.. Éramos jovens, éramos talvez imaturos e sonhadores.. teimávamos ter filhos e deixar património, descendência e amor fruto depois de flor...

Um dia então surgiu minha cunhada grávida, ia nascer um rebento, ia nascer um novo ser... Fiquei tão feliz, fiquei tão entusiasmado.. a minha família ia ser mais e talvez quem sabe melhor... Via meus pais quase chorar de alegria, meu irmão nervoso e disfarçando como podia.. como ia ser...

Num dia do desabrochar de Fevereiro, no início do mês nasceu um menino a quem honrosamente lhe deram o nome do meu avô materno.. João, Juan, tal como um apóstolo sagrado de Cristo, tal como alguém que amparou a Virgem Maria no acto pos crucificação e morte de Cristo.. João, é amor, gratidão, amparo e mais então.. João era agora também o meu primeiro sobrinho desta geração...

De pequenino aprendi a mudar fraldas, a vestir e até a ajudar a dar de comer, biberão e carinhos mil, livros, brincadeiras, fantoches, jogos e mais fiz de tonto, de irmão e até me senti mais .. humano também..
Meu sobrinho o acompanhei e fui até padrinho de baptismo, o vi aprender a andar, de gatinhar e sorrir, de chorar e brincar e vestir um ar de bem estar e partilhar...

A quem não o conhece nem saberá as horas que passei a olhar e admirar o seu dormir e apenas estar, calmo, tranquilo e menino... Cresceu, amadureceu e se fez o que é um homem, hoje perfaz a idade que faz, pai e esposo e também meu sobrinho que prezo de alma e coração...

Parabens se dá, mas hoje choro e rio, me lembro de nariz partido de minha mãe com trolitada de cabeça dele nas vésperas de meu exame de Otorrino, cuidei dele, enquanto estudava e fiz sorriso pra ele se sentir bem e feliz... Hoje ele se ri e lhe escrevo um pedacinho de prosa para o ver estremecer o seu olhar e lhe dizer.. nunca te esqueças meu querido sobrinho que tu foste o meu primeiro sobrinho e que nunca te poderei esquecer... Parabens,,,,

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Lobo e meu Avô..

O Lobo e meu Avô..

Uma história irei contar.. de meu avô Juan falar.. Passada em España, en tierras de Andalucia, sierra Morena por perto e muita tradição.. Eram tempos antigos, de confronto entre homem e campo.. Gado, cavalos eram transporte, riqueza e pobreza.. Lida do campo, agrícola e não só, tanto havia que nem poderei muito dizer, pois havia e há segredos de encantar.. Mas, a história simples e bela que me encantou e encanta.. a partilho e conto com prazer de neto, de homem que me prezo dizer "era meu Avô..."
Meu Avô vinha na sua montada e anoitecia, era inverno, vinha cansado e estafado da sua labuta diária e sem horário.. Seu cavalo nobre, seu companheiro conhecia o trilho e já sabia que na chegada não lhe faltaria escovagem, palha no pelo e manjedoura redobrada pelo esforço criado.. neste preâmbulo bucólico digo meu avô sabia da poda e conhecia sua besta e companhia com carinho e dedicação e beneficiava de seus alertas que lhe davam mais destreza e jóia.. Pois, meus amigos, montada pressentiu, cavalo de espírito rebelde, macho e inteiro, sabia que vinha bicho por perto e em perigo redobrado e criado.. Bicho havia e meu avô sabia ao ver porte de sua monta em trilho bravo e céu escurecido.. Bicho bravo e nobre, a respeitar e sabido, de chefia de matilhas credenciadas era um lobo alpha, um lobo preto de grande dimensão, da serra vinha, viajava só e buscava comida... Meu avô respeitava e sempre me ensinou a saber nem defrontar o que não é possível enfrentar e vencer, porque as forças da natureza nunca ninguém as venceu..Calmamente deu festas a sua montada, o sossegou e plantou o receio com raciocínio e inteligência, sem pavor, mas com medo contido de saber como enfrentar o desafio de lobo grande enfrentar.. Pois, me dizia ele.. que fazer meu querido, te ensino, pensar e decidir e mostrar lucidez e calma.. Então sabendo dos receios seus e do lobo, acendeu um cigarro, na boca aposto e de chama sempre acesa, entretida o acto e mostrava o domínio do maior receio de lobo.. Fogo.. Caminhou ele e sua montada, por entre árvores, pego, e bosque, era inverno e recordo, Andaluzia em inverno é charco e de difícil caminhar rápido.. Lobo espreitava e ele sabia que estava por perto, cheiro de mato, de animal sedento e com fome havia.. Como pode chegou à aldeia que primo dizer e divulgar.. Paymogo, terra nobre de castelo mouro e igreja adaptada de templo mouro.. Mas, a história nem fica por aqui, pois meu Avô sabia que se não enfrentas o teu desafio, mais tarde poderás ser de novo vítima e presa.. Entrou na sua casa.. descarregou seu cavalo, lhe deu comida e bebida, manteve sela e albarda e pegando na sua arma de caça, remontou e saiu enfrentando fera nobre e bela que o esperava no recanto do bosque, de los pinos del coto... Após enfrentar e digno de olhar, nem sei o que ele sentiu, mas sempre me mostrou admiração pela natureza e me incutiu profundo respeito por besta e animal.. Lobo foi morto nesse dia, sua pele curtida e na casa se manteve como símbolo de coragem e respeito, enfrenta e e respeita animal e família sem ódios nem rancores de quem é nobre e humano.. Esta é a minha origem, a minha fibra, o meu olhar, a minha tradição que sempre enfrento e defendo.. Homenagem a meu Avô sublime do qual prezo recordação de sua barba que picava e de seu chapéu de aba larga e do seu imenso sorriso e do qual mantenho a minha feição e herança...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A minha Escola..

Faz muitos anos que um dia meus pais me levaram a uma bela escola e me disseram aqui vais muito aprender e saber... Foi o mundo desconhecido, conheci colegas e amigos e apesar de ser uma escola de rapazes, as raparigas sabíamos que estavam bem perto e caminho..
Nessa bela escola dita primária entrei eu e mais uns quantos rapazes de muitos credos e luzes para a chamada escola de ensino.. Dois professores havia, uma Senhora e um dito Professor Falcato que dele todos tínhamos tanto medo.. A Dona Marta nos preenchia a primeira e a segunda e tão difícil era preencher em duas linhas alguns símbolos que diziam ser letras, vogais primeiro e depois consoantes.. E havia as contas com dedos e mais... Aprendi a aligeirar os dedos em pegar lápis de carvão, borracha apagar e mais tarde ditado com erros e tudo.. Repetir era o lema, memorizar, treinar e fazer cópia, ditado e redacção... Escrever era uma aventura, era mesmo um prazer saber ler.. ler o autocarro e o eléctrico, o papel das compras de minha mãe e o que comprar no Lugar do Senhor Fernando...
O primeiro ano passou e, o segundo também, mas a 3ª e a 4ª vieram e mais lições e muitas reguadas de nem decorar a tabuada de multiplicar... Desenhos e havia quem fizesse coisas tão lindas que aprendi a molhar na boca o lápis de cor e a maçã pintada no caderno mais brilhante e viva saía..  Espalhar a cor azul com papel e até aprendi a fazer galeão de piratas com velas de cruz Latina e a cruz dos navegadores célebres e portugueses.. Cruz de Cristo era e feliz e orgulhoso me sentia e sinto...
Nessa prezada escola aprendi a receber elogio e castigo por bem e mal fazer, também vi sofrer colega por não poder usar mão esquerda e o professor lhe bater por não utilizar a mão do demo.. Ajudei e lhe fiz trabalhos com colegas e amigos vivi..O tal Gracia um pouco menos destro e vivo.. maior em tamanho e nem poder passar de classe.. O ajudei e ajudaria de novo e lhe diria hoje, tem calma companheiro que vamos os dois enxergar...

Problemas aprendi a resolver e auxiliado em casa por meu irmão e pai e mãe me deu mimo e dizia sempre, vais conseguir... Cópia fiz, ditado e mais desenhos, contei histórias e ainda hoje prezo vos mostrar que alegria sentia em ver a minha mala de cabedal nas costas com cadernos lindos, livros maravilhosos, coisas e recoisas aprendi e ainda me lembro o difícil saber rios de angola e linhas de caminho de ferro.. O que aprendíamos e até uma caneta de tinta permanente, hoje dita de aparo usei em papel de 25 linhas com dobra obrigatória de prova de exame onde tirei 20 valores...
Orgulho tenho de aquela escola, saudades desses tempos, mas o que mais partilho e vejo ainda era a amizade de colegas e amigos.. Quando estive doente com febre, recebi o colega Daniel, o José Augusto e o João.. Hoje nem sei onde param, mas sei que fomos e somos colegas de instrução primária onde foi e aprendi as primeiras letras e algarismos, contas e mais vi...

A minha escola nem nova era, se subia escada íngreme e alta, carteira dupla tinha e frio por vezes fazia.. Por debaixo da escola havia uma carvoaria, o homem parecia ter ali nascido, as paredes pretas de carvão, a balança de pesar o dito preta era, as mãos do senhor, braços e roupa e até cara se via preto era.. Ali sabia que havia carvão e esse homem mal sabia ler, mesmo por debaixo da minha escola havia..
Bem perto da escola morava o João Augusto que gostava de bola, do Sporting era ele e pai também.. Na casa do Augusto havia um Taxi, propriedade do pai, uma oficina era com mistério e carro velho... Ferramentas muitas e óleos e cheiros diferentes e que deixavam calças sujas e havia sova garantida em casa...
Também os havia filhos de caseiros e oficiais militares... Entrei em Manutenção Militar, pude ir ao cinema e na igreja aprender a rezar.. Tudo era novidades, uma Fábrica de óleos e margarinas e mais aromas que nunca esqueço.. Camiões com amendoins vinham e traziam para a fábrica, e nós pequenos e matreiros tanto fazíamos para entornar esses amendoins que depois de torrados em casa se revelavam agradáveis e bons..
Isto conheci e vos trago à lembrança de menino que fui e vi e gostei..
A escola por certo lá está quem sabe esquecida, em calçada íngreme, em zona antiga, entre bairro de gente fina e Rio Tejo que me fascina, mas eu e mais alguns nos lembramos e fazemos questão lembrar e fazer lembrar a tal grande escola, a primeira e sem igual....

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Planear uma Peregrinação

Planear uma Peregrinação

A oportunidade de planear uma viagem, é por si uma aventura, na oportunidade que alguns companheiros pedem.. como planear, como fazer, como ir, e será que conseguimos...
Dúvidas sempre as teremos, mas o planear corresponde a etapa necessária a sossegar, a racionalizar uma partida, uma ida e uma vinda.. conceitos inerentes na definição tão antiga e renascida na Idade média com o divinal Dante, "não se entende por peregrino a não ser aquele que vai à casa de Santiago ou volta" (Divina Comédia de Dante).

O termo Caminho é muito substancial e proporciona reflexão só por si, basta analisar as várias religiões de Buda, ao tao chinês, no Antigo testamento vem sempre muito referido, com Cristo tantas referências ao novo caminho, na India o Ganges, do mundo Árabe vem Meca, e em todos sem excepção nos incita, nos estimula e convida a percorrer, com mais ou menos preparação..
Com o celebre caminho de eterno sacrifício do Escrivá nos alimenta o desejo de imitar Cristo, tanto preconiza a oração e a acção, a preparação e o lembrar "o meu reino não deste mundo"...

Mas um preparar, um programar um Caminho de Santiago, ida a um sepulcro de um dito Apóstolo em tumba real depositado, evoca uma riqueza, um valor apelativo de chamada, de ouro, luz e esperança, onde haverá emoção, sensibilidade e devoção. O ir à catedral de Santiago, obriga a saber um destino, por onde vamos e de onde partimos, que dias, que horas vamos conquistar, o que será que vamos defrontar...
Em escritos antigos nos revelam que "eram tantos em caminho, multidões dos vão a Santiago, que pouco deixa de estrada livre.." Desde o século XII a cristandade transferia o desejo de ir a Roma e a Jerusalém para o Sepulcro do Apóstolo Santo Tiago, e  no século XIII, já Dante faz a citação referida.
Reconheço que nos muitos trilhos que percorri sempre planeei de alguma forma, mais ou menos elaborada a peregrinação, a jorna, o desbravar do desconhecido e poderei afirmar que o dito "caminho", estranho nos absorve a paciência, nos deixa sem descanso, nos convida e incita a percorrê-lo.. Hoje, sei que não é um exclusivo da religião que professo e oro, pois a riqueza, inesgotável de que vos falo ultrapassa o mundo real, o mundo do meramente ver e viver.. Henry David Thoreau  na sua obra "Andar a Pé" (1817-1862) nos recomenda a contemplação do prado, da montanha e da serra, com o bosque eterno e as estradas como artérias sanguíneas em direcção do coração do suporte e agraciamento do chegar do caminhante.. Ao planear um trilho, ao programar um ultrapassar obstáculos e desafios, sinto-me renascido, absorvido e temente a Deus e ao Homem e nunca ao mal, ao escurecer da vida, ao sofrer, explicito e ressurjo,de novo nasço...

Um homem ou mulher podem viajar, mesmo a caminhar e nem por certo os fará de peregrinos chegar, pois a paisagem tanto muda, os cenários lindos podem ser, áridos, divinais, paradisíacos, porém a viagem mais esquecida e sublime de uma meta alcançar.. a viagem interior.. Planear tanto nos obriga a pensar e sonhar esta mesma viagem interior...

Antes de planear é bom recordar um peregrino inspirador e Santo, Papa João Paulo II, que atempadamente nos disse:
" Eu, bispo de Roma e pastor da Igreja universal, de Santiago te dirijo velha Europa, um grito cheio de amor; volta a te encontrar, sê tu mesma, revive aqueles valores autênticos que fizeram gloriosa tua obra e benéfica tua presença em outros continentes." ( João Paulo II).

Fazer um caminho de Santiago exige tempo, disponibilidade,aceitação, presença, entusiasmo, amor, preparação e partilha.. Seja qual for o trilho seleccionado, e tantos há por certo, todo o trajecto se divide e subdivide em etapas, com horas e horas disponibilizadas de muito andar, exige maturação, aprendizagem e saber...

O tempo que disponibilizes para um dia peregrinar tanto depende de ti e dos outros de mais, pois tu se queres ser peregrino respeita teus familiares e amigos e partilha o teu gosto, virtude e talvez pecado... Um tempo de estudar, um tempo de treinar, meditar e até orar, com muitos desafios.. Se tens pouco tempo pensa no que queres, não desejes fazer caminho e senda tão rapidamente que nem lá estejas em alma e corpo, pois nunca te esqueças que peregrinar exige aceitação e presença.









quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Momentos
Um espaço solto e sem compromisso partilho o que tenho, apenas palavras soltas..
Livros leio e conversas sinto e recrio, invento e digo talvez alguém queira pensar comigo e travar uma conversa simples..
Partilho impressões e formas de estar, exercício e frustrações, dias santos e linguistas do governo, roubos e assaltos e o menino da vizinha que nem deixou dormir seus pais e vizinhos... Era os dentes, era a prisão de ventre e o eterno rabujar de nada ter ou encontrar..
Entre amigos emprestamos e trocamos livros lidos e tantos queremos alcançar..  Ouvi o ti Gaspar e a oposição gritar, assim não.. e o Primeiro delicado e já de pouco cabelo farto perdido que nem sabe o que dizer.. Na oposição reconheço alguns e outros os vejo se por em bicos de pés e dizer que haverá solução.. Na saúde vejo doentes e muito refilões sem nada ter e baixa apartar, alguns me vêem com receitas e exames de meus colegas privados onde bem gastaram e nada aprenderam que médicos tantos são e alguns nos dedicamos e outros menos.. mas todos lutamos por ver solução e males tratar.. alguns males duros de roer e doer, mas haverá clínicos que sentem e outros menos também..
Autores portugueses e estrangeiros também me deixam água na boca e sonho a ouvir histórias e contos, passagens sublinho e reparto com família e amigos e digo que autor!!
Aos meninos de qualquer idade primo por dizer sonhem meus filhos e leiam ou peçam para vos ler...
Recentemente comprei um livro de um burro famoso com memórias relatadas por uma condessa de Segur e um burrinho boneco comprei e ofereci.. disse a esses pais que sem força e obrigação lessem esses contos e histórias e deixassem a criança sonhar por favor, com um "Cadichon" ou um "Platero" de nos encantar e deixar com emoção e tradição..

quarta-feira, 8 de agosto de 2012



Reflexões de Peregrino

"That´s one small step for a man, one giant leap for manking"
Neil Armstrong




Pela primeira vez tentarei dissertar sobre algo que me é particularmente grato, peregrinação..
Nunca escrevi livro destas áreas, e neste trabalho, após um percurso de vários anos, passeei, viajei, andei e muito caminhei.. Só, acompanhado, em grupos familiares e de desconhecidos, aceitei um desafio de peregrinar, durante mais de 10 anos conheci monte, serra, alcatrão e seara, planície e bosque.. Suei uma bela estopa, fiquei molhado e algum frio, sede e apetite voraz, partilhei com amigos e desconhecidos, um trajecto, conquistei amizades e até inimigos, invejas também e orgulho, glória e muitas lições... O meu peregrinar nem diferente é, não vi deuses, santos, nem mesmo alucinações deslumbrei, vi sim, campo, flores, queimado e preto de incêndio apagado, fui saudado de muitas maneiras, efusivamente e sem interesse, mas por lá passei e deixei senda de andar a pé por um trilho que considerei divinal e sempre, sempre fiquei com vontade de lá voltar..

A peregrinação em termos descritivos,em termos vivência tem sido abordado exaustivamente de muitas formas, religioso, esotérico e até fantasmagórico, obras muito bem escritas, maravilhosamente descritas e até sonhadas.. e eu que nem escritor sou, o que vos poderei trazer...
Não pretendo transmitir o que passei e não passei de sofrimento, de divertimento e estimular a compaixão, sobrelevar o acontecido e o conseguido, pois o que fiz e mais quero fazer é apenas andar, igual a outro, criança, velho e entrado como eu..
A dissertação que  irei tentar escrever e partilhar será apenas uma autêntica viagem com excitação, ansiedades passadas, frustrações, objectivos alcançados e nem por sombra sonhados, acreditar em nós próprios, habilidades e capacidades conquistadas, bolhas nos pés esquecidas e tratadas, dores aqui e acolá tão dextras e sublimadas, gastronomia conhecida, águas divinais bebidas em fontes esquecidas, algumas confidências, um tempo, momentos e claro muita excitação, muitas palavras, muitos pensamentos, muitos e muitos sonhos.

Escrever as "Reflexões de Peregrino" tentarei que seja divertido, como se de férias grandes se tratasse, quebras das rotina, quebra da pasmaceira do nosso quotidiano, com momentos difíceis, e quem vos relata apenas um ente igual a tantos outros com palavras doces e amargas e com uma intenção de partilha o meu amor que tenho pelos trilhos, pela vida e quem sabe pela partida.. Convido a todos a me acompanhar e a pouco e pouco desfrutar uma leitura sem dores, sem mágoas, mas com entusiasmo e com cor...
O meu peregrinar cursou por várias épocas, em períodos que mal havia albergues, onde o trajecto nos obrigava a pernoitar em sítios de improviso, hoje alguns pontos de abrigo, lindos nasceram, mesmo em Portugal, porém sempre vos digo que aceito que gentes por questões que me ultrapassam tenham de procurar hotéis ou outros pontos.. Um albergue é um recurso digno e de louvar e o sugiro ao peregrino, não é um hotel, nem pensão, nem celeiro ou eira, em geral é um local digno em que o peregrino deverá respeitar e o fazer mais seu.. A noite em que se chega a um albergue, esse espaço será tão digno como a sua casa durante esse tempo...

Neste prefácio talvez nem tanto, apenas vos direi, vou descrever uma viagem, um guia de reflexão, a ideia do peregrinar, o destino, a meta,a preparação, as imensas dúvidas e, ainda tantas tenho, o confronto, a partilha, o doer bem no fundo, o chorar e a alegria, os sorrisos, o sentir-se renascido, criado e crescido, irmão e irmanado, até os identificamos os que nem gostam de nos ouvir, de nos sentir por perto, quando chegamos com um tom de pele de peregrino, com um andar mais acelerado, com mais paciência, com mais tolerância e compreensão, por criança, adulto, velho e também pelos sem razão..  Até os que nos odeiam, os vemos com outros olhos e até temos pena deles, sofremos e somos sofridos, temos sangue da mesma cor, nos dói tanto como outro qualquer e também gostamos de ser amados como os amamos também e lhes perdoamos...

O desafio está lançado, o meu escrever será uma tentativa de dar sem nada pedir (voto de peregrino), e amanhã ou depois vou escrevinhar mais, as minhas "Reflexões de Peregrino" num espaço de Palavras Soltas de Peregrino...

Obrigado pela vossa atenção
manuel vazquez



sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Peregrinação com minha companheira, com minha amada...

Cursava já uns anos passados, éramos mais novos e nos amamos tanto agora como antigamente... Decidimos ir os dois em caminho, em peregrinação, partir de um ponto, de um lugar de comum acordo em terras de Portugal ou de Espanha.. Destino traçado, meta desejada, albardámos as mochilas e pés bem calçados, filhos entregues aos avós, eram meninos e ainda nem percebiam bem onde iam seus pais de paus aviados e mochilas às costas.. Dormimos em Tuy, num hostal onde fomos muito bem recebidos e estimulados.. De madrugado levantados, pequeno almoço e no dizer dos residentes "muy malo dia pra caminar peregrinos..".
Quando saímos do Hostal compreendemos a mensagem, chovia belo chover, mal se via o céu e a luz do dia, mas decididos lá fomos com ilusão, com companheirismo e com fé, sim porque para estas coisas alguma fé se tem de ter nos bolsos e na alma...
Subida ingrime, procurámos a catedral de Tuy, catedral que já conhecíamos e simbolicamente dissemos adeus a San Telmo e lhe pedimos nos ajuda....
Campos molhados, roupa bem encharcada e nem capa nem coisa, a molha estava dada, lavados,a ilusão ia, e o prazer de andar e ir sentido..
Após as primeiras milhas, um café tomado e sempre em frente caminhamos, os regatos corriam forte, nos amparámos e num lugar divinal, sentimos as primeiras magia do caminho.. Se alguém conhece as identificará, ponte de madeira e um regato, umas cruzes, uma placa de lembrar, lugar de febre e adoecer de morte de San Telmo, um aroma estranho de paraíso, uma luminosidade fantasmagórico e pedras onde nos sentámos.. Repousamos e de mochilas arriadas, fechámos os olhos e peregrinos nos sentimos.. Ainda hoje me arrepio desse momento único, o coração toca, a respiração acalma, os pensamentos fluem, as angústias cedem e a esperança renasce... Molhados e eventualmente baptizados e abertos a um renascer e ser "peregrinos"...
Lá seguimos e mal sabíamos o que nos esperava mais à frente.. num bar junto à estrada ou melhor trilho, uma senhora varria o chão e qual o meu espanto distingo uma pagela, uma imagem molhada da Virgem Maria, Nossa Senhora de Fátima, grito dado e pedi para apanhar esse papelinho simbólico e que me acompanhou sempre e guardada a tenho em minha casa... Já a mostrei, já a partilhei e tão bela a acho sempre que a vejo, lembro a peregrinação passada e concluída..

Depois veio a recta do purgatório, quilómetros de muito andar, sem abrigos e de trânsito infernal, andámos e nem parámos, nos pareceu e parece o trajecto mais enfadonho do nosso trilho, nem serra, monte, bosque e mesmo deserto se compara o que sentimos nesse contexto, molhados, pés doridos e incomodados pelos aromas, pelo cenário de armazéns, de fábricas de centrais y oficinas... Porriño nos surgiu como um lugar de refugio e onde pernoitámos e recuperámos energias, com uma refeição quente, um dormir numa cama, um secar roupa sapatos e corpo, banho quente e nem constipados ficámos, pois a magia do trilho nos purificou o corpo e a alma.. Credenciais carimbadas em Casa ilustre de un buen hombre e arquitecto ilustre de España.. Um dia passado a andar, umas quantas horas, poucos quilómetros e muitas experiências que nunca conseguirei relatar.. Porém vos digo Sou peregrino e ao trilho o devo o sentimento de querer mais voltar..

No dia seguinte lá voltámos ao trilho, mas este primeiro dia vos conto e relato o que sentimos e tanto gostámos de passar e registar..